Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

A Alma Humana e a Psiquiatria

 


Definir a alma humana em termos psiquiátricos seria objeto para um aprofundado tratado sobre Psiquiatria, o que teria que, obrigatoriamente, considerar diversos aspectos médicos, filosóficos e teológicos, principalmente. Ainda assim, discorrerei, ainda que brevemente, sobre este tema.

A porção mais vital dos seres humanos, a saber, a alma humana, em latim anima e em grego psyché, significa: fôlego de vida. Distingue-se de corpo por ser este uma estrutura física (soma) e no qual reside a alma (psyché). Em psiquiatria, psiquê possui praticamente o mesmo significado de mente. Praticamente, digo, porque as definições da psiquiatria e da psicologia para psyché limitam e restringem o seu amplo significado reduzindo-o à limitada abrangência do vocábulo mente. A alma contém a mente e a mente faz parte da alma, não podendo existir mente sem alma (psyché).

Em uma definição simplificada, alma e mente podem ser entendidas como sendo a porção do ser humano que pensa, que decide, julga, aprecia, sente, percebe, se alegra ou se entristece, que ama ou que odeia, que cria ou que destrói. Às atividades da mente chamamos de psiquismo (ou atividades psíquicas), o que engloba o funcionamento da mente, os amplos e complexos fenômenos psíquicos e os processos mentais. No conjunto das atividades da mente se encontram também os afetos (sentimentos e emoções).

O materialismo no âmbito da filosofia, aliado à ideologia humanista secular, tem procurado desesperadamente demonstrar que o ser humano não passa de um grande agrupamento de células geneticamente orientadas. Porém, o fracasso dessa tentativa materialista e humanista secular de definir o ser humano é algo bem mais do que evidente, pois o ser humano é algo muito mais sublime do que um organismo feito de carne e ossos, e a concepção materialista simplesmente não alcança, nem de longe, os verdadeiros anseios e as reais necessidades da alma humana. É justamente na concepção materialista e humanista secular do ser humano que se encontra, por exemplo, a justificativa ideológico-filosófica e anti-cristã para a prática do aborto, não importando quando ou em que período gestacional se encontre o concepto (a criança em gestação).
 


Procurando se fundamentar no enorme avanço técnico e científico dos nossos dias, há quem chegue ao patético e estranho ponto de afirmar que a alegria e a tristeza, o amor e o ódio são apenas expressões neurofisiológicas de células cerebrais, um reducionismo incorreto e assombroso. Algumas dessas teorias são bastante sofisticadas e até mesmo sedutoras. Mas a realidade é que não há comprimidos para a solidão e nem há drágeas para as carências afetivas. E a porção do ser humano que percebe a solidão e que sofre pelas carências de afeto é a alma, a psiquê, em seu sentido mais abrangente. Os remédios para a alma não são físicos, assim como a própria alma não é algo tangível e palpável, mas antes transcende e vai muito além do que se encontra de modo perceptível no restrito território dos sentidos (sensopercepção) em sua interação com o universo físico.

A alma humana possui uma linguagem própria, e essa linguagem tem sido, invariavelmente, a mesma em todas as pessoas ao longo de toda a História. O riso e o choro, por exemplo, são expressões da alma facilmente perceptíveis universalmente. Porém, a alma possui diversos modos de expressar suas alegrias e suas tristezas, de comunicar suas necessidades mais íntimas e mais urgentes, e ainda de buscar ser valorizada e notada. Esta é uma singularidade que nos torna profundamente sensíveis quer seja à alegria quer seja ao sofrimento. O problema é que para muitas pessoas diversas manifestações da linguagem da alma soam desconhecidas, algo como um idioma de uma nação distante.
Existem muitas pessoas ao nosso redor cujas almas estão bradando em alta voz suas necessidades e carências, mas não estão sendo ouvidas porque sua linguagem não está sendo compreendida.

Psiquiatria (do grego Psyché = alma; + iatria = tratamento médico) é a especialidade médica que diagnostica e que trata dos transtornos da mente, da personalidade, dos afetos e do comportamento. A alma humana é, portanto, motivo de atenção da psiquiatria. E uma psiquiatria que não compreende a alma das pessoas, já deixa de poder ser chamada de psiquiatria, pelo menos em seu sentido semântico.

A mente (psyché) e o cérebro (soma) se relacionam de modo íntimo e intrínseco, embora tenhamos que admitir que esta relação entre os aspectos físicos do cérebro e os aspectos invisíveis da mente não é algo completamente compreendido pela ciência sendo motivo histórico de inquirição pela Teologia, pela Filosofia e por diversas ciências que estudam a mente humana. Na realidade o objetivo desta compreensão transcende o que se conhece por ciência e o que se entende por filosofia. Em uma perspectiva meramente humana a fim de se compreender a alma, todas as ideologias nada mais são do que obstáculos e empecilhos à verdadeira compreensão do que é a mente humana.
Podemos, por exemplo, estudar as diversas áreas encefálicas e cerebrais, qualificá-las e também quantificá-las. O órgão cerebral pode ser visto por exames de imagem, mas a mente não pode ser visualizada por estes recursos. Não se pode submeter pensamentos e sentimentos à medições de volume, de intensidade e muito menos de amplitude de abrangência.

 


A mente é, portanto, o território invisível da constituição intrínseca do ser humano. A mente só pode ser vista pela própria mente, ou seja, por uma leitura mental consciente e saudável. Excluam-se aqui as teorias psicanalíticas de Freud, Jung e Lacan, cujas construções teóricas encontram amplo espaço no território da fantasia e da especulação, mas longe estão da realidade e da comprovação da ciência e, principalmente, da própria experiência humana ao longo de toda a História. O chamado inconsciente psicanalítico é absolutamente carente de comprovações e de demonstrações científicas. E mais ainda, toda a experiência humana contradiz de modo veemente as visões e as fantasias concebidas pela mente enferma de Sigmund Freud. O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, via a mente sob uma perspectiva meramente humanista secular e materialista, por isso ele jamais pôde compreender a mente humana.

 

Afetos, Sentimentos e Emoções. A Afetividade


A leitura técnica da mente, após ter sido realizada, precisa de termos que possam traduzir e transmitir o que foi observado e onde foi observado, por isso a necessidade de uma terminologia especial e específica, a qual é utilizada pela Psiquiatria.


Embora notáveis esforços estejam em curso buscando uniformizar a linguagem para a definição dos fenômenos psíquicos e afetivos que ocorrem no ser humano, na realidade esta uniformização está ainda longe de ser clara e definitiva. E isto é bastante compreensível devido à enorme complexidade da mente humana. O importante é entender que diversos termos utilizados pela psiquiatria não possuem o mesmo significado quando utilizados na linguagem popular. Porém, de modo simples, podemos entender como afetividade o conjunto de sensações internas e de sentimentos experimentados pelas pessoas, sensações e sentimentos estes que obedecem a um mesmo padrão de funcionamento humano, ainda que possamos ser tão diferentes uns dos outros em nossas características íntimas e pessoais. Sendo assim, compreendam-se os sentimentos e as emoções como pertencentes ao conjunto dos afetos, ou seja, da afetividade.

Humor

Podemos entender como humor o estado de ânimo de uma pessoa, o qual está sujeito a variações normais e a variações anormais. Sobre as variações anormais do humor, as quais chamamos de transtornos do humor, este é um dos territórios alvo da psicopatologia (o estudo das doenças da mente) e da psiquiatria (a especialidade médica que diagnostica e que trata dos transtornos da mente, da personalidade, dos afetos e do comportamento).


As elevações anormais do humor são chamadas pela psiquiatria de Mania (em alguns casos de Euforia), e os rebaixamentos patológicos do humor são chamados de Depressão. Daí dizermos que o humor de uma pessoa pode estar eufórico ou deprimido. O humor pode estar rebaixado ou elevado, ou seja, a pessoa pode estar animada ou desanimada, e isto dentro das variações normais do humor nas quais os fatores externos (os acontecimentos do dia a dia) desempenham um importante papel.

Personalidade e Caráter

A personalidade e o caráter são as duas principais e mais íntimas peculiaridades de cada pessoa. Embora sejamos semelhantes estruturalmente, pois somos seres semelhantes, as características íntimas e pessoais de alguém são os fatores determinantes da individualidade e da riqueza do fato de sermos, ao mesmo tempo, únicos e insubstituíveis. Ou seja, nem mesmo os gêmeos univitelinos são realmente iguais entre si.


A personalidade e o caráter de uma pessoa são as suas características próprias e invisíveis que as distinguem umas das outras, inclusive no aspecto moral. A personalidade e o caráter das pessoas se expressam através do comportamento.

Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra